sábado, 7 de março de 2009

Estreito de Magalhães

Qualidade da leitura é aquilo que poderá deixar de existir caso as «autoridades» continuem a pensar que o uso do computador Magalhães substitui tudo o «resto». Na cabeça desses enormíssimos talentos não cabe uma ínfima parte do «resto»- a leitura pausada, manuseando livros, construindo universos, destruindo certezas, folheando ao acaso. António Barreto, nesta edição da Ler, diz o essencial: «A leitura na escola é a última das preocupações [...] Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram "cultura livresca", o que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir a cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa - e noutras partes do mundo- é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.»

Francisco José Viegas, editorial da revista Ler, Março 2009

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