sexta-feira, 6 de março de 2009

Acerca dos ensinamentos

Nunca ninguém me avisou do choque que seria o dia em que, certo ou não dos meus conhecimentos e do seu rigor, seria altura de ensinar outros. Por direito adquirido. Só. Gelo metafísico, para quem sente ter ainda tanto para aprender.

Na boca dos outros, a experiência- por pouca que seja- traz a capacidade de ensinar menos experientes. Não creio que seja bem assim. Encaro assim isto de ensinar seja o que for (quanto tempo for) como um dos maiores deveres (e desafios) da nossa existência. Não o tomo pois como um direito universal, pseudo-paternalidade de quem é mais velho. Qual bom filho, sempre exigi também que fosse bem ensinado.

Conselhos todos nós podemos dar (há-os bons ou maus) mas ensinamentos não será bem assim. Acho mesmo que não. E ainda não descobri o que nos leva a ter certeza se temos ou não esse dom. Acredito que, pelo menos num nível superior, tamanha capacidade radica não só na clareza, domínio do conteúdo e confiança transpirada na transmissão dos mesmos, mas também muito nessa coisa a que se vulgarizou chamar de fascínio, deslumbramento, admiração, carisma (a propósito, há uns dias na Super Interessante um artigo sobre a importância da imagem na sedução- parece que pessoas bonitas convencem mais facilmente, ocupam lugares de destaque por naturalidade). Simples captação do momento, to shine or not to shine. Mais: tenho a certeza que em poucos minutos fascinei-me eternamente (ou pelo menos, por um bom tempo que ainda dura até hoje) por coisas que ter-me-iam passado ao lado, e que de outra forma não me teriam marcado, se naquele preciso instante não me tivessem sido ensinadas da maneira que foram.
Palavras certas, expressões correctas, gestos brilhantes, imprintings certeiros. A lógica aliada à estética é o paraíso.


De forma que tudo isto mexeu comigo muito mais do que a minha primeira entrega de declaração de rendimentos (se é que isso mexe com alguém).

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