segunda-feira, 13 de julho de 2009

Twitter: what are you doing?


Eu confesso que percebo os blogs (por razões óbvias).
Vejo os que quero, nem se perco tempo nos que não me interessam. Adiciono uns. Às vezes, apago e readiciono mais tarde até.
Tal e qual a minha relação com a TV, a rádio, assim me relaciono com a internet e seus recantos.
Em tudo isto, deixo sempre espaço para uma possível mudança de opinião/gosto com o simples passar do tempo.

Eu até que percebo alguma da piada do furor inicial que foram as redes sociais, hi5 e afins. Por menos interessante que um tipo seja, é sempre possível vender o "produto". Uns mais bem "empacotadinhos" que outros.
Aguçou as nossas capacidades inatas de auto-promoção, de reles comerciante do produto mais básico que possa existir: nós mesmos.


Mas o Twitter, as mensagens instantâneas de estado e semelhantes, soam-me única e exclusivamente ao culto estúpido do Momento. À partilha inusitada, ao jeito de de uma histriónica que sai à rua aos berros todo o santo dia. Louvados sejam os vizinhos.
Quem não conhece tais personagens?

Para que um momento seja digno de registo (pelo menos para terceiros), há uma santa qualidade que não lhe pode faltar: raridade, não menos relacionada com outros tantas: espetacularidade, dignidade do que é partilhável, susceptível de merecer a atenção de outros.
Tal qual uma sinédoque, vai-se priveligiando:
A página em vez do livro.
O acorde em vez da melodia.
O mero "bitaite" em vez do raciocínio.
O vector de embate, esquecendo a física global dos corpos.
O fácil.
O imediato.
A parte em vez do todo.

Vejamos: uma cena pode até ser muito boa mas não nos esqueçamos que para as juntar existem os realizadores. E inclusive, existem os bons e os maus. Como em tudo.
Parece que o mundo vai acabar amanhã. Diz qualquer coisa para a mamã e para o papá. Para o tio que está em França e que te está a ver através do Twitter.

Como se a vida fosse mesmo um palco (é-o, eu sei). Mas até que ponto a nossa sociabilidade não passará pela saudável abstenção dos dramas dos outros?

Vómito a vómito, uma sanita em que se está constantemente a debitar qualquer coisa para quem está do lado de cá.
Todos debitam, tudo pode ser debitado.
(Onde ficaram os diários que as pessoas tinham antigamente? E as chaves dos mesmos?)
E ainda bem que é sinal de liberdade, dirão alguns. E o saudável espaço entre aquelas, não se esgotará à medida que cada uma reclama cada vez mais espaço para si?

Sou pois incapaz de perceber o que leva as pessoas a tanto reportarem o que "fazem" minuto a minuto das suas vidas. Note-se bem: raras vezes se quer o que "pensam" naquele minuto.
E quem não o faz, terá uma vida menos interessante ou será menos merecedor da atenção dos restantes?
Salva-se a vertente pseudo-jornalística da coisa, o lado às vezes irrisoriamente útil da questão.

Todos temos um microfone na mão há muito, é sabido. Mas quantos de nós lhe saberemos pegar?
A informação foi, é e será sempre uma faca de dois gumes (lá está, e por falar nisso, ela é uma "faca de 2 legumes", já dizia o "passarinho-twitter" Jaime Pacheco).
«A menos» é sintomático de ignorância ou opressão, «a mais» é uma seca, ou melhor, autêntica inundação e salve-se quem ainda vai sabendo mandar umas braçadas.

Ora, para as saber mandar é preciso um dia ter aprendido a nadar. E nessa aprendizagem, não se passa do dia para a noite para a piscina olímpica.


E o Twitter: oferecer-lhe o Nobel da Paz como ouvi há dias é, claramente, vangloriá-lo por algo que as massas sempre foram fazendo (com ou sem Twitter): a mitificação (ou antes, mistificação) de qualquer coisa pelo bem que possa ter causado (no caso, a partilha das imagens dos recentes confrontos nas presidenciais iranianas) ou pelo mal (algo para o qual não estamos ainda muito alertados...ou para o qual não terá passado se quer tempo suficiente para que nos apercebamos).

Não será a nossa sanidade mental, social um bem precioso? até que ponto não se estará a transformar a comunicação, a própria linguagem- com sedes biológicas já bem identificadas, e com isto tudo, inevitavelmente, as relações entre os homens?
O processo está em curso, não há volta a dar-lhe, é certo.


Não que eu considere a minha vida insuficientemente interessante para que a possa descrever telegraficamente ao minuto (ok, admito que seja até...tem minutos em que não faço puto mesmo).
Diria antes que, em jeito meio empático (de nada!), pouco me interessa partilhar algumas coisas que me vão acontecendo, muito menos saber o que a maioria das pessoas fazem das suas vidas. (Salvam-se pois raras e honrosas excepções, algumas das quais em que sou apologista do recurso ao meio audio-visual mesmo...o séquito do bom "voyeurismo" é pois a meu ver parte da herança genética da humanidade.)

Como diz o ditado, ainda há ignorâncias que vão sendo uma bênção.
Ou talvez, como diz o outro, ainda haja coisas que devemos guardar para nós próprios. Única e exclusivamente.

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