sexta-feira, 6 de junho de 2008

E lá vamos nós outra vez

Ao que parece está tudo pronto: a TV do café da esquina até já tem SporTv legal (imagine-se), as barraquinhas de finos já estão por aí espalhadas e já se veêm bandeiras contrafaccionadas com o vermelho bem à esquerda. A SIC e a TVi já nos deram a vasculhar a vida do Cristiano Ronaldo (e restantes), já lhe vimos a cor dos azulejos da casa-de-banho e até já sabemos qual o prato favorito dele. Sim, ao que parece, bacalhau à braz. Sim, bacalhau à braz. E ao que parece também, isto faz dele um exímio conhecedor e amante de peixe. Com uma subtil explicação: nasceu numa ilha rodeada de mar. Se ao menos fosse um cherne grelhado com molho de tártaro ou lombinhos de garoupa com molho de estragão...enfim. Pus-me a pensar qual será o prato favorito do Hélder Postiga, como é sabido, filho de pescadores da Póvoa. Confesso que vou indagar. Filetes de pescada Pescanova ou douradinhos Capitão Iglo? Gostos não se discutem mas rótulos talvez.

Entre estas manifestações, ia eu esta Sexta a caminho do C.S. onde me encontro, e entre umas poucas e tímidas bandeiras à janela, reparei num talho que ostentava orgulhosamente uns tantos cartazes, 100% "mão-facturados" a cartolina, tesoura, cola UHU, caneta florescente e mui imaginação, metade verde-metade vermelhos (felizmente cada metade no seu lado correcto): "Vende-se carne só NACIONAL"!!! (com nacional assim em letras bem maiscúlas). Não deu para esconder um sorriso, acho.

Seja como for, populismo ou não (para mim, as manifestações de terceiro-mundismo, felizmente, ainda são outra coisa e também as há por cá), cada qual à sua maneira (com ou sem sandes de torresmo e tinto, com ou sem apreciadores de peixe e bacalhau à braz), o futebol ainda vai sendo das poucas coisas que nos alegra. E ainda bem. Então festejemos sim senhor, e quando assim o justificar, que só nos faz bem. Mas não caíamos em exageros (tenho para mim que a piada do festejo está no gradual crescente da coisa, qual garrafa de espumante prontinha a abrir caso sejamos vencedores). Caso contrário, o que faremos nós quando formos efectivamente campeões?
Depois de muito pensar, e visto que esperas em aeroportos é "coisa de meninos", cordões humanos com não sei quantos kms idem, estádios a abarrotar também, bolos-de-não-sei-quê com não-sei-quantas-centenas-de-metros-de-extensão já nem falo...assim, radical radical mesmo mesmo (e único)...apenas me ocorre pintar os Jerónimos de verde e vermelho (as cores dos 2 grandes clubes da capital também, por sinal). Seja como for, tudo menos o Roberto Carlos a cantar a "Casa Portuguesa". Isso é que não. Isso já entra no domínio do terrorismo.

(agora que escrevo isto, e embora todos nos sintamos quase como campeões, apercebo-me da dura realidade de ainda não o sermos e sinto mesmo um pouco do "friozinho" que será a inevitável desilusão caso uma "Gréciazinha" ou uma "Françazinha" nos trame e tal não se venha a concretizar).

Humildade q.b., dedicação e concentração sem fim, algum sofrimento (epá...isto sem sofrermos um pedaço torna-se um Domingo de passeio e para isso não preciso de ligar a TV) um pedaçito de sorte e lá mais para o fim, uma ou outra loucura saudável. Assim, sim.

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