quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A parte pelo todo

Cronologia dos meus últimos tempos:

1.
Esboço argumentos de possíveis escolhas em plena viagem. Ideias que surgem, em papel-cartão, contra-capa e sujo, empoleiradas nas margens. Gosto de preencher os espaços assim: prender as preciosidades em cantos de página. Talvez assim me oriente melhor, não fujam da mente, não sei. Correndo os poucos anos de experiência (ao fim de quantos anos se pode falar em experiência?), mas de sinceridade e entrega própria total, à velocidade vertiginosa que transporta os objectos lá fora para trás. Se olhar pela janela, tem momentos em que face à torrente vertiginosa de pensamentos, enjoo. Qual efeito Doppler, ideias vão, ideias vêm, e às vezes apetece-me desistir, pedir um mapa genómico, consultar uma cartomante e descobrir afinal para que fui eu feito.


2.
Ambiente caseiro. "Sentem-se aí, quero que ouçam isto". As palavras e a concordância de quem me quer melhor. Sei-vos bem.
Os teus olhos, quando sabes que decido com gosto mas com a razão, dizem tudo. Ou melhor, espelham mundos de forças inquebráveis. Meus e teus, só. Acho que ninguém mais os descobriu até hoje, inclusive. E sinto-tos tal e qual os meus quando me cativam com esse estúpido elixir que é a lógica apaixonada das coisas (existirão lógicas apaixonadas?...).
Pois então: sigo caminhando sempre pela estreita fronteira entre a racionalidade que sempre desejei ter e aquela que sei que nunca irei alcançar de todo (felizmente). Apenas parte.


3.
"Já decidiste Luís?"
"Sim, já decidi". 2 ou 3 clicks depois, 2 páginas imprimidas e 2 assinaturas, um trocar de "parabéns" e um "obrigado por tudo" trancado por um sorriso mútuo. O meu: daqueles de quem não sabe bem para o que vai mas vai e vai com vontade. Como sempre fui sempre que me apeteceu fazer algo, como agora. Simplesmente, fui. A vida é feita de desafios, sem eles somos nada, penso.


4.
"Sabes, e não é que por cá está aquele frio?" :)

Talvez as vidas se definam mesmo em míseros instantes e nós aqui, mergulhados em utopias de tempos para tudo.
Num momento nascemos, num momento começamos a falar, a cantar, num momento sorrimos e noutro fazemos sorrir. Fazemos amigos e num momento afastamo-nos para sempre de outros, sem que saibamos sequer porquê. Num momento apaixonamo-nos. E num instante decidimos o que fazer para o resto da vida, assim. Num momento, o nosso clube é campeão mas noutro ainda perdemos tudo, taça e campeonato. Num momento somos tios, pais, avós, os maiores e os piores. Até que então, num momento exacto x, pelo processo fisiopatológico y (as palavras técnicas soam tão mal às vezes...) adoecemos e mais tarde num último instante morremos. É sempre assim. Tudo simples momentos.


5.
Amigos, a felicidade na voz dos outros que nos conhecem. Mesmo. A felicidade de quem é jovem: "porra", a felicidade de quem é jovem e tem um futuro de projectos pela frente é das melhores coisas do mundo.
A realidade do que parecia ser o sonho de sempre. A percepção da realidade. A realidade é uma merda, às vezes mete nojo mesmo. Asco. Capaz de nos levar a criar rancores para toda a eternidade. Isso não, isso não quero. Em jeito de troca de confidências: assistimos ao fim e ao assassínio das coisas mais belas e genuínas, aquilo que sei unir a alguns de nós. Aquilo que nos uniu. Ainda assim buscamos alternativas (ou não) mas seguimos em frente sempre.
O reconhecimento. "Obrigado por tudo. A medicina, seja qual for a especialidade é só uma." Sem dúvida.

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