sábado, 25 de abril de 2009

(KO)isas (com) sentido (20)

A primeira palavra, repetida infantilmente, pela Dª Maria, uma doente que sofreu um AVC hemorrágico extenso, e até ontem e há já cerca de 2 semanas com uma afasia global
(para que se perceba- incapaz de verbalizar, incapaz de compreender o que se lhe diz):
Mãe.
Ou melhor: Mãe, Mãe, Mãe, Mãe, Mãe, Mãe...

E hoje de novo. E amanhã talvez também.
(E até quando ou porquê?)

E depois o parar para pensar: talvez a primeira palavra que todos nós aprendemos a dizer e o caricato de ser também a "primeira" que se reaprende naturalmente um dia mais tarde.
E da Mãe que outrora a embalou nem vê-la.
O que lhe ficou?
E a palavra? O que dela é a palavra? Ou quanto lhe pertence por direito designativo?

Não sei o que resta quando as pessoas ou as coisas se vão, sequer o que fica quando deixamos de conseguir pôr em prática a mera representação simbólica que ao longo dos tempos fomos aperfeiçoando para as denominar.

Mas quando delas nada fica nem símbolos, pois o que fica então?

Muito menos pouco percebo do que um dia as uniu, as desune e volta a reunir um dia mais tarde.


E assim por uns tantos minutos, parado, bati mal. Mesmo mal.
Mas lá segui em frente e, no ridículo e longínquo horizonte apaziguador, encontrei um todo que não passa de uma falsa representação de nada. Absolutamente nada.

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