«Talvez eu não tenha vivido como devia?», ocorreu-lhe de súbito. «Mas como, se fiz tudo como deve ser?», disse para si mesmo e imediatamente afastou essa única solução de todo o mistério da vida e da morte como coisa completamente impossível.
«Mas que queres tu agora? Viver? Viver como? Viver como vivias no tribunal, quando o oficial de justiça proclamava: "Chega o juiz!..." Chega o juiz, o juiz chega- repetiu para si mesmo. - Aí está ele, o juiz! Mas eu não tenho culpa! - exclamou, furioso. - Porquê?» Parou de chorar, e voltando a cara para a parede ficou a pensar sobre a mesma coisa: porquê?, para quê todo aquele horror?
Mas por mais que pensasse não encontrava resposta. E quando lhe ocorria, como muitas vezes ocorria, a ideia de que tudo aquilo resultava de ele não ter vivido como devia, logo recordava toda a justeza da sua vida e afastava essa ideia estranha.
in a A Morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstoi
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