Ou o que trouxe comigo da Feira do Livro.
Janeiro de 1995, quinta-feira. Em roupão e de cigarro apagado nos dedos, sentei-me à mesa do pequeno-almoço onde já estava a minha mulher com a Sylvie e o António que tinham chegado na véspera a Portugal. Acho que dei os bons dias e que, embora calmo, trazia uma palidez de cera. Foi numa manhã cinzenta que nunca mais esquecerei, as pessoas a falarem não sei de quê e eu a correr a sala com o olhar, o chão, as paredes, o enorme plátano por trás da varanda. Parei na chávena de chá e fiquei. Sinto-me mal, nunca me senti assim, murmurei numa fria tranquilidade. Silêncio brusco. Eu e a chávena debaixo dos meus olhos. De repente viro-me para a minha mulher:
«Como é que tu te chamas?» Pausa.
«Eu? Edite.» Nova pausa.
«E tu?»
«Parece que é Cardoso Pires», respondi então.
in De Profundis, Valsa Lenta, José Cardoso Pires
in De Profundis, Valsa Lenta, José Cardoso Pires
O impressionante relato de um AVC na primeira pessoa.
1 comentário:
Esse livro é fantástico. Boa escolha.
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