Depois do filme há uns anos atrás, lancei-me na leitura dos diários (Viajem pela América, Che Guevara, Edições Dinossauro, 1996), após ter descoberto esta aquisição de então, forrada a umas boas gramas de pó, na minha estante. Os diários elaborados por Che em 1951 (então com 23 anos), aquando da sua primeira viajem com o amigo Alberto Granado. Os mesmos que deram origem então ao filme.
Anos mais tarde (já com 25 anos) havia de repetir a façanha, agora com outro amigo (Carlos Ferrer- Calica), viajem essa que também resultou num livro, recentemente editado (De Ernesto a Che, Guerra e Paz), quase meio século depois, desta feita na voz do companheiro, mas sem esquecer o enfoque inevitável naquela personagem histórica.
Muito mais do que quaisquer ideologias (o que é a vida senão uma sucessão de ideais- ou o definitivo momento da sua ausência, a burilar dentro de nós?), claramente ainda bastante embrionárias num Ernesto social ainda em construção (e para o qual muito ajudou esta viagem). A certeza que a juventude é a melhor altura para partir à descoberta do mundo, dos outros e assim (porque não?) também de nós próprios.
Plasticidade, ingenuidade, sonho, alguma loucura, força, ternura (e porque não também alguma indiferença egoísta? daquela que nos permite largar tudo quando queremos...de quem tem uma vida pela frente), camaradagem e fraternidade, tempo (claro- e tempo é dinheiro, não vale a pena negá-lo), acuidade máxima dos 5 sentidos, registos mnésicos frescos. Verdadeiras esponjas. Eis os ingredientes principais.
Fica o "bichinho" da viagem. (Mais ainda). Não de avião (do rápido e confortável avião) mas por terra. De descobrir a América do Sul e qualquer pedaço navegável no planisfério, mas também à imagem de Che, das diferenças no nosso próprio país, no nosso velho continente até. Da viagem não inconsequente.
Ainda que a ideia da descoberta esteja nos dias que correm banalizada, facilitada quiçá até. Toda a gente parte de mochila para algum lado (laptop incluído) e volta cheio de histórias para contar. Tropeçamos nestas ao entrar em qualquer livraria. Fico a pensar qual o sentido de partir para uma expedição deste tipo (e porque corremos sempre o risco de não trazer grande coisa de volta- "A viagem correu bem?") com a obrigação de ter à partida uma história pré-acordada, roçando quase a subversão das coisas: a celebração da chegada quando ainda mal se partiu.
Pois que de uma viagem não se pretende na maioria das vezes que seja dura, mas sim descansada, é certo. O ritmo das coisas assim o dita, não vale a pena contrariá-lo, não vale a pena julgar quem assim o faz. Todos nós já o fizemos, todos nós o faremos um dia. Mas esquecemo-nos que o mais importante talvez seja o caminho e não o fim, que talvez o verdadeiro sentido daquela seja a necessidade de nos esticarmos ao fim de um dia, mortos de cansaço. Aí sim, algures entre meia dúzia de passos perdidos no horizonte que ficou para trás, estamos a escrever a história, a mudar(-nos). A viajar.
Plasticidade, ingenuidade, sonho, alguma loucura, força, ternura (e porque não também alguma indiferença egoísta? daquela que nos permite largar tudo quando queremos...de quem tem uma vida pela frente), camaradagem e fraternidade, tempo (claro- e tempo é dinheiro, não vale a pena negá-lo), acuidade máxima dos 5 sentidos, registos mnésicos frescos. Verdadeiras esponjas. Eis os ingredientes principais.
Fica o "bichinho" da viagem. (Mais ainda). Não de avião (do rápido e confortável avião) mas por terra. De descobrir a América do Sul e qualquer pedaço navegável no planisfério, mas também à imagem de Che, das diferenças no nosso próprio país, no nosso velho continente até. Da viagem não inconsequente.
Ainda que a ideia da descoberta esteja nos dias que correm banalizada, facilitada quiçá até. Toda a gente parte de mochila para algum lado (laptop incluído) e volta cheio de histórias para contar. Tropeçamos nestas ao entrar em qualquer livraria. Fico a pensar qual o sentido de partir para uma expedição deste tipo (e porque corremos sempre o risco de não trazer grande coisa de volta- "A viagem correu bem?") com a obrigação de ter à partida uma história pré-acordada, roçando quase a subversão das coisas: a celebração da chegada quando ainda mal se partiu.
Pois que de uma viagem não se pretende na maioria das vezes que seja dura, mas sim descansada, é certo. O ritmo das coisas assim o dita, não vale a pena contrariá-lo, não vale a pena julgar quem assim o faz. Todos nós já o fizemos, todos nós o faremos um dia. Mas esquecemo-nos que o mais importante talvez seja o caminho e não o fim, que talvez o verdadeiro sentido daquela seja a necessidade de nos esticarmos ao fim de um dia, mortos de cansaço. Aí sim, algures entre meia dúzia de passos perdidos no horizonte que ficou para trás, estamos a escrever a história, a mudar(-nos). A viajar.
Imagem retirada de um blog
3 comentários:
...depois de andar a seguir anónimamente estes diários não resisto a admitir que também eu sonho com essa viagem pela América do Sul, principalmente desde que vi o filme.
quem sabe um dia...
p.s.: desculpa a invasão mas saltitando de blog em blog vim aqui parar...e gostei :P
c.:
as invasões não se desculpam. Ou nos submetemos ao invasor ou expulsamo-lo. neste caso, a comunhão de sonhos, de uma viagem, de uns diários, deixa-me sem opções senão uma porta aberta.
E é sempre bom quando assim acontece.
Às vezes penso no entanto que essa mesma viagem feita hoje não tem a mesma magia que há 50 anos atrás. Vivemos depressa demais: banalizou-se o mundo (e ainda bem), a partida, a chegada, a viagem mas esquecemo-nos da importância do caminho.
obrigada por me abrires a porta do teu cantinho :)
E sim, concordo contigo, afinal ""Para quê ter pressa de chegar quando é a viagem que me fascina?" Mas hoje vive-se muito para as coisas imediatas, ir a correr para os sítios, fotografar e trazer recordações, voltando o mais rápido possível ao nosso porto seguro. Fica a faltar o espaço necessário à aventura, ao imprevisto...falta deixar os mapas em casa e deixarmo-nos guiar pelos sentidos, seguir verdadeiramente o instinto, ir por onde a terra nos chame e alimentar a alma com pequenas emoções que nos servem de alento em dias mais cinzentos.
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