Chego aos 25 e apercebo-me que ainda não sou capaz de mandar um bitaite decente sobre política internacional (ainda que, do pouco que vi desta campanha presidencial americana, a ache uma fantochada e me orgulhe de tamanho sinal de maturidade). Nem muito menos de macroeconomia, que apenas sei encaixar na categoria das palavras técnicas bonitas. E saber palavras técnicas é sempre bom num mundo de técnicos, mas quando ela é bonita é qualquer coisa mais. É saber "encher salas" também (e não é graças ao prefixo em causa). Muito menos entendo o frenesim com que um espirro mal contido em Wall Street é sentido do lado de cá. Como se de um verdadeiro furacão se tratasse. E toda a gente sabe que furacões não podem haver todos o dias. Eventualmente haverá um ou outro que arrase tudo à passagem. Agora todos os dias, não. Dêem-nos descanso.
Motivos quase suficientes para uma autêntica desilusão ao virar de quarto de século.
Mas dou conta que face aos 18 (a dita maioridade) alguma coisa mudou, é certo. Ainda que os sonhos ainda não dêem sequer para contar pelos 10 dedos das mãos que estendo à minha frente no preciso momento em que pauso a escrita (...pausa...). Ainda bem.
Tal como eles, como se nenhum sonho fosse menos importante por maior ou menor, por mais fácil ou difícil de alcançar. Afinal de contas, todos são o que são: sonhos. A leveza e musicalidade da palavra em si conota toda a sua grandeza. Sonhos. Repitam e reparem. Capazes de flutuar.
E aos 25 (o início da maturidade) perco-me no inevitável balanço do que já alcancei então.
Emprego aparentemente estável (desculpem-me a presunção mas face aos dias de hoje...) e que me estimula (acima de tudo, isto o mais importante), carro próprio (my first, own and yet the only possession), algumas pessoas queridas e pouco mais assim espremidinho, se o tivesse de dizer numa frase só.
Mais.
- Memórias de outros tempos, sim. Do que já foi e volta prazeirosamente às vezes, do que nunca mais volta mas que mesmo assim dá um gozo tremendo recordar. De quem não quis, mas acima de tudo de quem quis mas não pôde ficar. De quem não fui capaz de descobrir lugar e, claro, de quem por cá ainda vai ficando sempre.
Tudo isto, na certeza que o esquecimento é a coisa mais natural que há, mas que a recordação não lhe fica atrás pelo rasgo de espontaneidade que pode conter em si. Li há uns tempos que para esquecer é preciso recordar (ou tê-lo recordado antes). Nada faz mais sentido.
- A simplicidade e naturalidade com que, aqueles que considero terem sido os meus verdadeiros mestres até hoje, me cativaram (nem eles o imaginam...).
- 3 ou 4 receios de vida que ainda mitigo, outros tantos quase-axiomas que me vêm acompanhando.
- Algumas frases escutadas, lidas, faladas, dialogadas, pensadas, muitas delas ecoadas em mim, que me marcaram ou ainda marcam, outras que já não marcam mas que por cá assentaram arraiais. Nem muito menos dão para esquecer ou apagar.
- Uma série de imagens, de instantes, nada contínuo e ainda assim tudo estupidamente interligado, às vezes confuso até. E também por isso talvez tenha dias em que as detesto recordar. Como se, castigo existencial, não me fosse permitido captar nada mais do que simples pedaços aberrantes do que me rodeia para a posteridade. E todo o resto que os unifica se degradasse. Sem que pudesse fazer o que fosse, se entranhasse de bolorosidades precoces e se esfarelasse na brisa mais ténue que possa haver. Naturalmente e só com o simples passar do tempo. E eu assim, meio sem saber para o que venho afinal, ao perder diante de mim o que daria sentido pleno a isto tudo.
- Umas tantas cenas de filmes, que assimilo como se de páginas de um possível roteiro se tratassem (nunca se sabe quando surge a deixa ideal).
- As fotos de vida que nem preciso pendurar.
- Outras tantas músicas que guardo, mas que nem sequer em formato físico ou digital, nem muito menos tomei nota.
Simplesmente, sei-as todas comigo ainda que se me perguntarem pelas mesmas, inevitavelmente me escape alguma. Estou consciente de tal, é óbvio. Mas tenho-as por cá e isso é para mim é-me suficiente.
- Talvez 5 locais (dos poucos em que já estive e vou estando) que nunca irei esquecer. A vontade de lá voltar mas a razão azucrinando-me para outros conhecer antes.
Quase sempre estropiado por uma vontade, também ela já vintã, de conhecer, de partilhar, de ir à descoberta. De partilhar sonhos e medos. De enfrentar o desconhecido. De lhe estender a mão e lhe espremer todo o brilho da sinceridade. De quem não tem nada a perder. Do primeiro impacto de um olhos-nos-olhos. De festejar essa pequena coisa a que chamam cumplicidade. Que nasce assim do pé para a mão (às vezes meio tosca até) para depois crescer robusta vezes sem conta. De brincar aos "sem fins" no gozo que só a certeza que nada é eterno nos pode dar. De quem sabe a "labilidade de malabarista" dessa coisa que é a Vida. Como se a ignorância ou a inconsequência fosse o pior dos nossos pecados (eu próprio, hoje, ainda não o sei).
E no entanto, sempre o tempo (sempre o tempo...) como o mais contínuo que existe. [há uns tempos no blog de uma amiga, quase cruel mas sublimamente escaqueirado (é esta a palavra) em 5 ou 6 palavras só...e eu assim, estarrecido em como ela o apanhou tão bem].
Hoje apaguei 25 velinhas de um sopro único. Para que se saiba só. Não fosse tal motivo mínimo e ridículo de orgulho por agora, que não me falta o fôlego.
Revejo os planos e traço novos objectivos lá para os 30. Até lá. Quem sabe, aí sim, saberei mandar os bitaites referidos. Nem prometo fazer muito por tal. Nada mesmo até. Como se isso- em jeito comum de quem numa vida quase sempre sobrevaloriza futilidades, fosse sequer o mais importante.