quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Até que a vista nos doa (11)

9:2, ganham as morenas.

Monica Bellucci

Mais sobre a solidão: o elogio

If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight?
I know...
Because tonight is just like any other night.


I know it´s over, The Smiths
(hoje pela noite dentro na voz do mestre Jeff Buckley)

Entre : linhas

Abri a primeira página.
À esquerda, impossível de passar despercebida a qualquer leitor, preto e branco, com um jardim ao fundo, um retrato bem à moda antiga de uma qualquer família ocidental. Não faltam os vestidinhos lindos, os sorrisos, olhares e poses ensaidas de véspera para o mítico dia da visita do fotógrafo.

À direita, começa assim:

Um dia há vida. Um homem, por exemplo, de perfeita saúde, nem sequer velho, nenhuma história de doenças. Tudo está como sempre esteve, como sempre estará. Ele passa de um dia a outro, não se ocupa de outra coisa senão dos seus assuntos, sonha apenas com a vida que tem à sua frente. E então, de súbito, acontece que há morte.
Um homem solta um pequeno suspiro, afunda-se na sua cadeira, e é a morte. O carácter súbito desse facto não deixa o menor espaço ao pensamento, não dá à mente a menor hipótese de procurar uma palavra capaz de a confortar. A única coisa com que ficamos é a morte, o irredutível facto da nossa própria mortalidade. A morte depois de uma longa doença, podemos aceitá-la com resignação. Mesmo a morte acidental, podemos imputá-la ao destino. Porém, o facto de um homem morrer sem nenhuma causa evidente, o facto de um homem morrer simplesmente porque é um homem, deixa-nos tão perto da invisível fronteira entre vida e morte que não sabemos de que lado estamos. A vida converte-se em morte e é como se esta morte sempre tivesse sido dona e senhora desta vida. Morte sem aviso. O que é mesmo que dizer: a vida pára. E pode parar a qualquer momento.


Recebi a notícia da morte do meu pai há três semanas. Era sábado de manhã e eu estava na cozinha a fazer o pequeno-almoço para o meu filho Daniel. A minha mulher dormia ainda no piso de cima, quente sob as cobertas, desfrutando umas horas extras de sono. O Inverno no campo: um mundo de silêncio, fumo da madeira, brancura. A minha cabeça estava cheia de pensamentos sobre as páginas que escrevera na noite anterior e delineava já a tarde, o período do dia em que poderia voltar ao trabalho. E foi então que o telefone tocou. Soube nesse mesmo instante que havia um problema. Ninguém telefona às oito da manhã de um sábado, a menos que seja para dar notícias que não podem esperar. E notícias que não podem esperar são sempre más notícias.
(...)


in Inventar a Solidão, Paul Auster


Uma foto e dois parágrafos bastaram então para me convencer.
Confesso que andava à procura de algo assim há já algum tempo. Não me passaria pela cabeça que o encontrasse em Paul Auster, sequer num livro com este título.
Estou a digerir cada pedacinho, entre outras leituras técnicas esporádicas que o ofício às vezes obriga.
Para já aconselho(-me). A terceiros, só mais tarde direi se sim ou não.

A sugestão foi da Clara e como há pouca coisa melhor do que um devido reconhecimento, aqui fica o meu. Obrigado.
Lá para o final da coisa, pode ser que falemos melhor, ok?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

No Metro (3)

Ela 1: Sabes, o que eu acho piada em Lisboa mesmo é a luz.
Ela 2: A luz?!
Ela 1: Sim, a luz da cidade. Já passei por muitas cidades e nunca vi uma com uma luz assim.
Eu (a pensar): Damn!, como te compreendo!

Falar da luminosidade única de Lx em tarde solarenga, das águas furtadas do Rossio e das muralhas do Castelo quase douradas é, a meu ver, o mais certo dos lugares comuns por estas paragens. Um rótulo que já deve ter dado umas boas milhares de vezes a volta ao mundo sabe-se lá já desde quando.
Já o ouvi de outros que por cá estiveram em tempos, ouço-o hoje que cá estou e creio que se ouverá sempre por aqui e da boca de quem por aqui passa.
Mais: só não vê quem não quer (até o mais distráido um dia acabará por reparar).

Ora também eu, se me perguntarem o que tem de especial a capital, responderei sem hesitar o mesmo: a LUZ.


(Para minha imensa vergonha- visto que escandalosamente ainda não possúo my very own photo da Baixa lisboeta- esta é uma foto retirada algures da Net)

Do domínio dos estranhos rituais

Eu confesso: num destes dias, numa das idas ao Continente e perante aquelas estantes incontáveis de material escolar do mítico regresso às aulas, não resisti em abrir um daqueles cadernos pretos (vulgo "Caderno diário") e enfiar a excrescência nasal bem lá no meio à procura do cheiro perdido da escola primária. Dizem que o odor é dos sentidos que melhor evoca sensações mnésicas e eu tenho isso por facto consumado.

E isto é já um ritual.
Mas desta vez o preocupante foi que, nem sei bem se do passar dos anos, se do raio do material com que fazem aquilo agora, já não teve bem o mesmo poder de evocação. Ainda procurei um livro desesperadamente (sim, os livros é que concentravam aquele cheirinho "às resmas" assim no espaço entre a segunda e a terceira páginas) mas não encontrei.

Sem mais soluções, vim para casa meio frustrado sem a habitual certeza ao que cheirava o 1º dia de escola.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

«Mar de gente»

Foto de Spencer Tunick

Vou ali e já venho

Deixo-vos com esta músiquinha. Um clássico.

Escusam de agradecer.
O sorriso é por conta da casa.

Belle and Sebastian - Funny little frog

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

«Ladies and gentlemen place your bets»

Às vezes penso que a melhor maneira de tomar decisões difíceis é mesmo aquela de mandar um dado ao ar.

Esqueci-me dos phones em casa (no metro 2)

E o que dizer daquela malta que insiste em "dar música" ao pessoal via telemóvel? What the f$#$?!
1ª reacção inevitável: quem é que tem um toque tão piroso?
2ª: quem é que é surdo aqui e não ouve o raio do telemóvel?
3ª: ok, já te identifiquei, tens a mania e és parvo, definitivamente.
3ª e meia: ok, não é um toque, é música!!! Oh que bom! E que bem que deves ouvir os teus mp3 assim, hã?! e que tal arranjares uns phones? ou gostas do barulho de fundo do metro? uma delícia, era o que faltava nessa músiquinha mesmo.

Sem vergonha. Mudam faixas, põem mais alto, puxam atrás, à frente, etc.
Olham à volta como se fossem os maiores, os djs lá do sítio. Aliás, de fonte segura: a maior parte do pessoal entrou no metro só para ouvir aquele pedacinho de playlist. Garantido.

Usar phones é do passado, claro.
Digamos que são o equivalente dos "tijolos" que se transportavam ao ombro nos 80s.

Sou a favor da divulgação de experiências culturais sim, mas epá! há limites!
Obrigadinho mas aqui o "je" prefere o barullho do metro. Digamos que já estou habituado.

O cúmulo do egoísmo. Se todos nós fizéssemos aquilo...

Incompreensível (no metro 1)

A malta que forra os livros que lê no metro com papel de jornal.
É um vírus. E está-se a disseminar. Tenham cuidado.

domingo, 14 de setembro de 2008

Sem comentários (3)

(Imagem retirada algures da Net)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Como se tornar um folker em 3 tempos

[AVISO: Mais sobre Fleet Foxes.]

Ouvir o cd de estreia de Fleet Foxes 3 vezes, deixar de fazer a barba umas boas 2 semanas, comprar um "violão" daqueles na feira da ladra e uma camisa de flanela aos quadradinhos (não pode ser das parolas que se vendem no Continente...tem de ter no mínimo 10 anos de vida para ter aquele aspecto minimamente russo).

Digamos que estou half way. Falta-me só o último passo.
Senão vejamos: a barba é rápida a crescer, não há problema. O "violão" já o tenho, ainda que nem saiba pegar naquilo (é um projecto de vida ainda). Mas a camisa até sei de quem a possa emprestar-me.
Estou pois oficialmente a centímetros de conectar tudo e tornar-me então um autêntico folker.
Não estranhem que venha a ganhar aquele estúpido "accent" sulista ou lá-o-que-é-aquilo no meu correntíssimo inglês. "Rightaaa"?


Mas que raio, sou só eu que acho esta cena de outro "mundinho"?!?
Será do Outono?
Fleet Foxes - Tiger Mountain Peasant Song
(clicar aqui primeiro para ouvir a dimensão do que falo)

First Aid Kit - Tiger Mountain Peasant Song (Fleet Foxes cover)
(para visualizar bem o aspecto físico da coisa também)

Sem comentários (2)

Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo

Não, não se trata de uma alusão ao espírito Para-Olímpico.

É o simples repor da verdade.
De algumas das fotos mais consagradas e incríveis de sempre.
A seguinte e outras mais. A ver. Aqui.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Porque o Outuno não é quando um gajo quiser

É só mesmo quando dá.
E eu até sou daqueles que gosta da coisa. Sócio honorário, quotas em dia e tal.

"A modos que" andava em pulgas para pôr aqui esta músiquinha. Faltava a companhia perfeita: a ameaça de chuva a pairar no ar, aquela dezena e meia de pingos a escorrer teimosamente pela janela, o barulho da água a tecer novos trilhos por aí fora, o primeiro cheiro a terra molhada (senti-o hoje de manhã lá no parque de estacionamento/selva do hospital) e o arrepio inaugural da época fria "pós" longo período estival. De-li-ci-o-so.

A música já a conhecia (algures na Radar, creio) mas a descoberta do videoclip é da inteira responsabilidade da autora do mais recente cantinho da net que visito assiduamente ("tks").
E quanto a Fleet Foxes, diz-se (eu ainda não ouvi o cd todo em condições) menino para estar na fila da frente quando for a entrega dos prémios de 2008.

E não me venham com coisas, porque este video é de uma harmonia extrema.
Tomem lá então e, quando voltarem aqui, espero que já venham com o raio do chocolate quente na mão.

Fleet Foxes - White Winter Hymnal

The wisdom of old

Ela (Dª Ascensão): Doutor, que idade tem?
Eu: Porquê? (sorriso) Que idade é que me dava a Dª Ascensão?
Ela: 22?
Eu: !!! (inevitável sorriso).
Ela: !!! (inevitável sorriso de um velhinha "demenciado-acamazada" (gomer) que é, por assim dizer, o rei dos sorrisos).
Eu: 24, quase a fazer 25.
Ela: Xiii...é muito novinho.

Umas 2h depois:
Ela: o Doutor não é casado pois não?
Eu: !!! (sorriso inevitável outra vez e pensamento interior do género: p*$%&!, o que é que virá aí agora?!)
Eu: Não. não sou.
Ela: Faz muito bem. Não tenha pressas que é o pior erro que pode fazer.
Eu: !

Sexta-feira "baladeira"

Parto de fim-de-semana ao som de Ryan Adams.
(não confundir com o Bryan homónimo)

Aos momentos deliciosamente solitários.


Ryan Adams - When the stars go blue

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Até que a vista nos doa (10)

Audrey Tautou

Desabafo d´aqui 2

6 anos e tal a estudar Medicina e chegar à conclusão que pouco ou nada sei.

Digamos que sou a pulga que vivia em pleno pêlo do elefante e que após um longo treino para o salto final, descobriu o tamanho da coisa que tem à volta. Duppsss...
"O rato pariu a montanha" ou qualquer coisa do género com a palavra "pariu" também à mistura (!).

Ok, se tiver mesmo de ser, venham outros tantos.

Desabafo d´aqui 1

Ai os gomers, os gomers...

(juro que não há santo diazinho que passe nesta última semana que não me venha esta palavra à mente- assim tipo flashes- uma boa meia dúzia de vezes...).
E o inevitável, saber que um dia também poderei lá chegar.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Demais

Só há pouco tempo é que dei uma hipótese aos Contemporâneos da RTP1.

Nunca vi, continuo a não ver (nem sei se ainda dá) nem tanto por falta de tempo mas sim porque os Gato Fedorento- para manter o mito dos Gato Fedorento- têm de ser insubstituíveis (pelo menos durante uns tempos). E por isso mesmo, julgo ser um erro substituir (ainda que não seja esse o objectivo primordial, dizem) os Gato seja por quem for já. Senão vejamos: o João Pinto também não foi substituído pelo Simão no Benfica do dia para a noite. Demorou o seu pedaço.

Por mais brilhante que seja o formato (nem sei se é o caso), a resistência é inevitável. É a doce tragédia que nos corre nas veias (diz quem lá esteve desde tempos remotos). A saudadinha que é lixada. Custa-nos a esquecer seja o que for, sobretudo se foi bom, muito bom. E por isso, andamos a lamentar a falta e a carpir uns 3472456 dias. E pouco ou mais nada fazemos ou vemos entretanto.

Domingo à noite, também não ajuda lá muito. É verdade.
E um ou outro sketch que vi e que não achei fabuloso, estragou tudo. Rótulo instantâneo: bom mas não é fora de série (e nisto tem de ser mesmo fora de série).
A "cena" do humor é talvez essa: tem de nos apanhar no momento exacto x, bater de frente com a nossa disposição sentimental y, contorná-la, "torcê-la e distorcê-la" (assim como quem enxuga uma t-shirt ensopada) e ressuscitar de nós o sorriso interminável acerca do mais estúpido ou mundano dos assuntos z. Para não falar de outras variáveis. Resumindo: uma autêntica ciência, digna de equações de resolver apenas com recurso à calculadora ciéntífica da Texas Instruments, último modelo.
Mas quando resulta parece a "cena" mais simples do mundo.

Pois bem: com isto...bem, com isto, delirei.
Lá está: simples, bem apanhado e "tá lá tudo" (porque até nem há muito para lá estar).
Ao nível do Gato.
Uns bons minutos de riso.

Será que ainda se lembram de um programa que dava na Sic com os jogadores da Selecção e o seu louco dia-a-dia?
Então vejam por amor de Deus isto.
Deixo para mim um dos melhores:

Contemporâneos - Os inacreditáveis (Ricardo Quaresma)


E mais: Cristiano Ronaldo e Ricardo (sim, inclui gozo integral com a voz do pobre coitado).

Cinema por casa

A actualização das sessões caseiras dos últimos tempos:

The Savages, Tamara Jenkins (2007)


Des Leben der Anderen, Henckel von Donnersmarck (2006)


Quero ser Famosa, Amos Kollek (2003)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Cenas que perduram (4)

In the mood for love, Wong War Kai (2000)


Chow Mo-wan: In the old days, if someone had a secret they didn't want to share... you know what they did?
Ah Ping: Have no idea.
Chow Mo-wan: They went up a mountain, found a tree, carved a hole in it, and whispered the secret into the hole. Then they covered it with mud. And leave the secret there forever.
Ah Ping: What a pain! I'd just go to get laid.
Chow Mo-wan: Not everyone's like you.